quinta-feira, julho 19, 2007

Desastre Tam


A vida é efêmera, um sopro. Bela, basta um instante, um ar, um pisar, uma decisão,um acidente.
Vivemos , sem pensar mais do que vida. Os muito religiosos no conforto de outra vida, ou no desespero do eterno fogo.
De verdade somos flor de algodão, brincamos de eternidade, vivemos na brisa mansa de dias e dias que parecem para sempre nossos.
Claro que no fundo, muito fundo inconsciente, nos sabemos frágeis, perecíveis, nos despedindo quando brindamos cada novo dia.
O acidente com o vôo da Tam, apenas nos desperta desse devaneio de eternidade para o horror da morte antecipada, dos desastres rondando a vida, trazendo a morte.
Todos morreremos. Humanas criaturas, esperamos o conforto familiar, a despedida triste mas acompanhada, as vezes até um adeus feliz de quem viveu e participou da festa da Vida.
Quando eu morrer quero teus olhos nos meus, quero meus filhos me perpetuando numa memória feliz que eu possa deixar do que fui.
Tenho PIEDADE de todas as vítimas. Desse acidente, de outros mais; como nascer e morrer na miséria, viver no meio de conflitos e guerras do mais ganancioso e cruel governo.
Tenho PIEDADE, dos que nascem na desigualdade, morrem ainda pior.
Tenho PIEDADE dos atormentados, dos que refletem a vida, escutam música mas nunca aprenderam a dançar.
Tenho imensa PIEDADE de quem perde sua herança maior,perde sua continuidade, seus filhos, sua certeza de perenidade.
Tenho PIEDADE de todos nós.
Não há culpa na catátrofe, nem a fúria insana e vingativa traz conforto.Um pouco de adrenalina talvez, um momento. Depois o inevitável vazio.
PIEDADE para quem fez a viagem definitiva tão fora do tempo, sem aviso prévio, sem esperança.
PIEDADE para os que ficaram para sempre enfurnados na caverna da saudade, onde só responde o próprio eco de seus gritos de dor.
PIEDADE para todos capazes de sentir a dor alheia, na compreensão de que a dor faz ronda enquanto a felicidade ainda é possível.
Nise
São Gabriel, 19 de julho de 2007





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