domingo, julho 08, 2007

A Borboleta



A Borboleta
(Francis Ponge)
Quando o açúcar elaborado nos talos surge no fundo das flores, como em xícaras
mal lavadas - um grande esforço se produz em terra donde as borboletas imediatamente levantam vôo. Mas como cada lagarta teve a cabeça vendada e enegrecida, e o torso definhado pela
verdadeira explosão de onde as asas simetricamente flamejam,
A partir de então a borboleta errática não pousa mais a não ser ao acaso de seu vôo,ou quase isso.
Mecha volante, sua chama não é contagiosa.
E aliás, ela chega demasiado tarde e
apenas pode constatar as flores abertas.
Não importa: comportando-se com um acendedorde lâmpadas, verifica a provisão de óleo de cada uma. Ela posa no alto das flores com ostrapos desajeitados que carrega e se vinga assim da longa humilhação amorfa de lagarta ao
pé dos talos.
Minúsculo veleiro dos ares maltratado pelo vento como pétala supérflua, ela vagabundeia pelo jardim.

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