sábado, maio 31, 2008

Geada


Nem era cedo, perto das 8 hs.Fui no quintal estender roupa(faina de todo dia), e vi ainda branquinha a geada na grama.

Chamei teu nome, para a surpresa de visão tão linda.

Chamei amor, ouvi ...bem, não ouvi porque estou irremediávelmente surda e práticamente muda.

Mas que linda manhã de inverno, que linda geada. Como ouvi ontem de um gaúcho que anda pela campanha, " meus passos quebravam a geada".


Nise

São Gabriel, 31 de maio de 2008

quarta-feira, maio 28, 2008

Chuva da Lembrança


Volto contigo à terra da ilusão,

mas o lar de meus pais,

levou-o o vento

e se levou a pedra dos umbrais

o resto é esquecimento:

procurar o amor neste deserto

onde tudo me ensina a viver só

e a água do teu nome se desfaz em sílabas de pó

é procurar a morte apenas,

o perfume daquelas longínquas acuçenas

abertas sobre o mundo como estrelas:

despenhar no meu sono de criança

inutilmente a chuva da lembrança.


Carlos de Oliveira (1921/1981)

quarta-feira, maio 14, 2008



Tus ojos

son de donde la nieve

no ha manchado la luz,

y entre las palmas el aire invisible es de claro.
Tu deseo es de donde

a los cuerpos se alía lo animal con la gracia secreta de mirada y sonrisa.
Tu existir es de donde percibe el pensamiento,

por la arena de mares amigos,

la eternidad en tiempo.



Luís Cernuda

No decía palabras




No decía palabras,

acercaba tan sólo un cuerpo interrogante,

porque ignoraba que el deseo es una pregunta

cuya respuesta no existe,

una hoja cuya rama no existe,

un mundo cuyo cielo no existe.

La angustia se abre paso entre los huesos,

remonta por las venashasta abrirse en la piel,

surtidores de sueño

hechos carne en interrogación vuelta a las nubes.

Un roce al paso,una mirada fugaz entre las sombras,

bastan para que el cuerpo se abra en dos,

ávido de recibir en sí mismootro cuerpo que sueñe;

mitad y mitad,

sueño y sueño,

carne y carne,

iguales en figura, iguales en amor, iguales en deseo.

Auque sólo sea una esperanza

porque el deseo es pregunta cuya respuesta nadie sabe.
Luis Cernuda

terça-feira, maio 13, 2008

Casa Suspeita


Casa suspeita
talvez eu quisesse ser teu lado mais bonito
a parte da tua história mais repleta, plena
a coisa certa
de uma forma tão serena, tão doce
mas que ao mesmo tempo fosse
selvagem e obscena, violenta até.
que o ódio está sempre contido na paixão
e se eu tenho uma paz toda que me enfeita
trago uma casa suspeita dentro do coração
trago um crime que cometi ou que vou cometer
e jogo contra mim, jogo contra você
vivo do perigo de te fazer enlouquecer
no eterno dilema de ser e não ser
ando na beira do que pode acontecer
e morro de medo de te perder.

Uma mulher


Uma mulher
uma mulher caminha nua pelo quarto
é lenta como a luz daquela estrela
é tão secreta uma mulher que ao vê-la
nua no quarto pouco se sabe dela
a cor da pele, dos pêlos,
o cabelo
o modo de pisar,
algumas marcas
a curva arredondada de suas ancas
a parte onde a carne é mais branca
uma mulher é feita de mistérios
tudo se esconde: os sonhos, as axilas,a vagina
ela envelhece e esconde uma menina
que permanece onde ela está agora
o homem que descobre uma mulher
será sempre o primeiro a ver a aurora.

Gato


Quero um gato.
Sem raça, só um gato.
Preferência por tigrado,para que lembre ..um tigre.
Quero um gato para acarinhar, quero um gato que se enrosque, mie e me goste.
Quero um gato.
Nise
São Gabriel, 13 de maio de 2008.

Bruna Lombardi


Alta Tensão



eu gosto dos venenos mais lentos

dos cafés mais amargos

das bebidas mais fortes

e tenho

apetites vorazes

uns rapazes

que vejo passar

eu sonho

os delírios mais soltos

e os gestos mais loucos

que há

e sinto

uns desejos vulgares

navegar por uns mares

de lá

você pode me empurrar pro precipício

não me importo com isso

eu adoro voar.

Transparência

Na transparência fosca de água parada, observo o limo,
as pedras, as cores.
Nessa transparência permito que o olhar vá mais além.
E , faço desenhos, consigo até ver teu vulto.
Na velha árvore morta, galhos torcidos, parece que gemem,vou escondendo quem sou, vivendo quem devo.
Nise
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Mãe

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Dicho

jugueteando como animalillo en la arenao iracundo como órgano impetuoso;
Te lo he dicho con el sol,
que dora desnudos cuerpos juveniles
y sonríe en todas las cosas inocentes;
Te lo he dicho con las nubes
,frentes melancólicas que sostien
en el cielo,tristezas fugitivas;
Te lo he dicho con las plantas,
leves criaturas transparentes
que se cubren de rubor repentino;
Te lo he dicho con el agua,vida luminosa que vela un fondo de sombra;
te lo he dicho con el miedo,
te lo he dicho con la alegría,con el hastío,
con las terribles palabras.
Pero así no me basta:más allá de la vida,
quiero decírtelo con la muerte;
más allá del amor,quiero decírtelo con el olvido.
Luis Cernuda Bidón
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Espera



Qual é a atitude

que você está tomando, moço?

Que grito você está dando
que eu não ouço?

Que é que está adiantando
falar grosso?

Que laço, que fita, que farsa

que nó é esse amarrado

no pescoço?

Moço, que palhaçada, que festa

é essa?

Que luz

se nos taparam o sol?

Que é que resta, que é que presta

como é que se pode nadar no meio de tanto anzol?

E quando a corrida começa

todo mundo disparado

pisando em quem tropeça

Moço, que incongruência

um sorriso numa hora dessa...

sexta-feira, maio 09, 2008

Velha Casa


"Havia, em algum lugar, um parque cheio de pinheiros e tílias,e uma velha casa que eu amava.

Pouco importava que ela estivesse distante ou próxima, que não pudesse cercar de calor o meu corpo, nem me abrigar; reduzida apenas a um sonho, bastava que ela existisse para que a minha noite fosse cheia de sua presença.

Eu não era mais um corpo de homem perdido no areal. Eu me orientava.Era o menino daquela casa, cheio da lembrança de seus perfumes, cheio da fragrância dos seus vestíbulos, cheio das vozes que a haviam animado." (Antoine de Saint-Exupéry)

Seja Paciente


Rainer Maria Rilke


Quero lhe implorar

Para que seja paciente

Com tudo o que não está resolvido em seu coração e tente amar.

As perguntas são como quartos trancados e como livros escritos em língua estrangeira.

Não procure respostas que não podem ser dadas porque não seria capaz de vivê-las.

E a questão é viver tudo.

Viva as perguntas agora.

Talvez assim, gradualmente, você sem perceber, viverá a resposta num dia distante.