quarta-feira, outubro 31, 2007

Nunca mais


Pensei que o tempo era meu
Eu, brinquedo do tempo.
Menino levado erguendo pipas
Pipas, os sonhos meus.
Pensei que a vida era minha
Eu, brinquedo da vida
Menina levada brincando tres marias
Tres marias não alcançam o céu, vida minha.
Pensei que a ternura era minha
Eu, brinquedo da ilusão
Mocinho levado brincando de estilingue
Acertou ternura,
Quase morri.
Pensei que a verdade conhecia
Mocinha brincando de roda
Largou verdade no vento
Voltou empoeirada,
Irreconhecível,
Quase me perdi.
Pensei conhecer modéstia.
Sepultou-me a soberba.
Pensei que o amor podia
ser parceiro meu.
Homens e mulheres cruelmente brincaram
bola de gude
meu coração.
Pensei que podia contar
perdi a conta e os cantares
Hoje quem resta sou eu
pedindo nunca mais.
Nise
São Gabriel, 31 de outubro de 2007.

sábado, outubro 27, 2007

Para envejecer juntos


Para envejecer juntos
(Félix Grande*)

Para envejecer juntos nos cogemos las manos,
yo miro tu sonrisa, tú miras mi tristeza;
irán saliendo arrugas en mi alma y tu cabeza
y canas sobre nuestros espíritus humanos;

idéntica vigilia caerá en nuestras historias:
ver al tiempo ir cerrando una a una las ventanas,
me sonreirás lo mismo que todas las mañanas
y será como un ramo de flores mortuorias;

tú eres ese recuerdo que he de tener un día,
yo soy esa nostalgia que poblará tu frente
cuando ya sea un anciano, amada, anciana mía;

pienso en ese futuro tranquilo y arrugado
como en dos viejos libros qua ya no lee la gente,
con tanto como habrán, en silencio, aguardado.

Sonhos


Há sonhos individuais e coletivos. Sonhos irresponsáveis e delirantes, mas também sonhos previsíveis e tediosos. Há até os sonhos que nem são nossos, mas assumimos como tal, certos de que estamos fazendo o correto.
Dos sonhos irresponsáveis e delirantes, podemos destacar os dos jovens: dirigir o carro do pai; sem carteira, ter um caso com aquele amigo casado e mais velho, fumar maconha pela primeira vez, transar sem camisinha, beber até cair.
Sonhos delirantes tem-se em qualquer idade: conhecer os Stones, acertar na loteria, voltar no tempo; só pra dizer aquilo que ficou entalado na garganta, encontrar um poço de petróleo ou uma mina de ouro.
Uma raça em extinção de sonhos são os implantados ou transferidos: mamãe quer que eu seja médica, meu namorado adora me ver naqueles “tutus” de balé, e meu pai adoraria ter uma dúzia de netos. Cruzes!
Os sonhos previsíveis começam a aparecer quando a pessoa está alcançando a maturidade: passar no vestibular, conseguir um bom emprego e uma boa remuneração, fazer um curso no exterior e, talvez, mais tarde, constituir uma família.
Já os sonhos tediosos são aqueles praticamente impossíveis: o pobrezinho sonha desde criança em ter um “Ferrari” mas, infelizmente, é pedreiro. Apenas ilusão. Tenha dó!
Os sonhos são, resumidamente, um retrato das necessidades do nosso ser. Quem não sonha não vive.
O que sustenta viva uma pessoa doente, em estado terminal? Uma esperança, um sonho de, um dia, voltar a caminhar ao sol. O que mata o jovem são e lúcido? A falta de sonhos, perspectivas, caminhos a trilhar.
Que não deixemos nunca de sonhar e que, com o tempo, aprendamos a sonhar os sonhos certos.
Flora Valls Machado
Um sonho, minha menina Flora.
Tia Nise

Não ser Poeta


Não ser poeta
Não ser poeta, mas sentir

Sem escrever a poesia

deixar que em ti ,ela viva.

Não ser poeta, e inexorávelmente ,

implacavelmente, querer.

Poesia.

Não sou poeta.

Nunca serei.

Mantenho no entanto, como lua,

o brilho de teu Sol, Poesia.


E, ah...e pode até ser que um dia ,

num instante qualquer,

mais do que visitas

Deixe-me um mimo de um verso sem igual

Que me faça pensar

Poeta.

Enquanto isso,

desculpa por toda pretensão que tive e tenho

Por tanto amor jogado fora

Língua de cão rima com que?

Para que não seja pobre demais a rima, rimo não!



Nise

São Gabriel, 27 de outubro de 2007.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Laura e Pedro


Chegaram trazendo alegria
Matando saudade
Revivendo amor
Partiram
e escuto música
no coração.
Tia Nise
São Gabriel, 25 de outubro de 2007

segunda-feira, outubro 22, 2007

Ceias


preparo ceias

cheias de veneno e púrpura

elevo meus dias

ao preço da solidão descarnada

desencarno

e pássaro ao outro lado
® Rubens da Cunha
Outro passeio, outro encontro.Confirmada verdade que basta realmente olhar.
Blog do Sr Rubens da Cunha: Casa de Paragens
Nise

sábado, outubro 13, 2007


O grande problema das borboletas,


é que muitas continuam com alma de lagarta,


e lagarteando em forma de borboleta,


voam, rastejando por entre espinhos


quando deveriam pousar sobre rosas."



Cristiano Nagel

Varal


No Varal de roupas

da minha Vida,

estendem-se camisas mal-lavadas,

amassadas,ultrapassadas.

Calças

Solitárias

esburacadas,customizadas com trapos de corações.

Sozinha, uma gravata enforca-se com seu próprio nó.

Um vestido sorri diante de pouca desgraça.


Cristiano Nagel


Em meu passeio virtual, gratifica-me encontrar tanta gente, GENTE.

Do blog , Pensamento Estranho, maravilha-me o poeta.

Nise

O vestido


O vestido
(
Adélia Prado )
No armário do meu quarto
escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia
desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: eu estou no cinema
E deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.

domingo, outubro 07, 2007

Meu pequeno Príncipe


Andando, o principezinho encontrou um jardim cheio de rosas. Contemplou-as… Eram todas iguais à sua flor.
E deitado na relva, ele chorou……
E foi então que apareceu a raposa:- Bom dia, disse a raposa.- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira…
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita…- Sou uma raposa, disse a raposa.- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste…
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa "criar laços…"
- Criar laços?-
Exactamente, disse a raposa.
Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens também necessidade de mim.
Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo… Se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor… Cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto…
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito… São precisos rituais.
- Que é um ritual? Perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas.
(…)Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ai! – Exclamou a raposa – Ai que me vou pôr a chorar…
- A culpa é tua, disse o principezinho. Eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
- Pois quis.
- Mas agora vais-te pôr a chorar!-
Pois vou- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! Disse a raposa. Por causa da cor do trigo… Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.
(…)- Adeus…- Adeus, disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos…
O essencial é invisível para os olhos – repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… Repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade, disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa…

Excerto de "O Principezinho", de Antoine de Saint-Exupéry
Meu menino Caetano, irremediávelmente cativada, perdida de amor por ti, desejo sempre que , menino lindo, homem bonito, sigas cativando , cultivando, percebendo , em cada lembrança que vovó Nise puder semear, um pouco de meu amor, pois sei que vais amar muito, muito mais. E humanamente bom, muito amado, respeitado.Mais que rosa, um mundo inteiro para exerceres o dom supremo de amar.
Tu tens raízes. Profundas. Firmes.
Dá o melhor fruto, sê a maior sombra.
Menino amado meu ,menino amado da mamãe Ivana, menino Caetano marca uma hora para me encontrar.
Vovó Nise
São Gabriel, 7 de outubro de 2007.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Tempo


Aí que o tempo está curto demais...aí que perdi demais o tempo e no tempo me perdi.

Ah, tempo que não volta, memória que permanece , exigente do eu antigo.

Resiste coração porque quando sepultado o sonho, aí sim, não terás mais nada.

Nem serás.

Lamparina acesa, persigo o tempo, e na escuridão ele há muito nem sequer precisa caminhar.

Nise

São Gabriel, 5 de outubro de 2005.

terça-feira, outubro 02, 2007



ASAS DE TERNURA
©Jade Dantas

Memória de olhos,
boca, mãos,
a deslizar na pele

e entre a ausência tua
e a minha ardência,
a doçura das lembranças.

Intermitente, transbordam
sem permitir que se interrompam
palavras de poesia.
Parte dessa paisagem,
sou pássaro noturno
voando em asas de ternura


Imensamente feliz, posso postar aqui em "Vivendo com Neruda" esse poema de minha amiga Jade.
Caminhos diversos tem a vida, diversos os amigos, inesquecíveis os que vêm com poesia.

São Gabriel, 2 de outubro de 2007.

Mario Pirata



nas retinas das meninas

crescem calêndulas

caleidoscópios cristalinos

nos traços retorcidos

nos dedos de Miróe

quando o amor levantar vôo

meu coração vira aeroporto


nas pupilas das mulheres

escorrem chumaços

de fios amarelados

pelas pétalas dos girassóis de Van Goghe

quando o amor levantar vôo

meu coração vira aeroporto



nas pálpebras das anciãs

surgem punhados

de serpentes escancaradas

como as mãos ressecadas de Gauguine

quando o amor levantar vôo

meu coração vira aeroporto.



Mario Pirata