quarta-feira, março 29, 2006

Anel.

" Que importa não se ser sol nem lua , se se é luz e luar?"
Darcy Ribeiro
(do livro Migo)

Ah, é assim que sei.
Sou.
Vivo em ti, vives em mim.
Pai, filha.
Filha, Pai.
Invisível anel do mais puro ouro.
Forjado na saudade, repleto de presença, incrustado de nós.
Meu pai.
Meu para sempre amor.
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sábado, março 25, 2006

Tão perto que tua mão sobre meu peito é minha...

Não te amo como se fosses rosa de sal,topázio
ou flechas de cravo que propagam o fogo;
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho;
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és,
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha,
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


Pablo Neruda
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sexta-feira, março 24, 2006

Orfandade


Orfandade

A menina de preto ficou morando atrás do tempo,
sentada no banco, debaixo da árvore,
recebendo todo o céu nos grandes olhos admirados.

Alguém passou de manso, com grandes nuvens no vestido,
e parou diante dela, e ela sem que ninguém falasse,
murmurou: " A mamãe morreu."

Já ninguém passa mais, e ela não fala mais, também.
O olhar caiu dos seus olhos , e está no chão com as outras pedras,
escutando na terra aquele dia que não dorme
com as três palavras que ficaram por ali.
Cecília Meireles


É assim de muito repente que chega essa certeza de menina .
Nunca te tive.
Nunca que tenha lembrança.
Dói.
Quero.
Sigo.
Preciso ser inteira.
Junto das lembranças que me contam todos os pedaços.
É assim que tenho te levado comigo, quem sabe assim
me levas contigo.

Nise (ou tua boneca)

quinta-feira, março 23, 2006

A mãe de meu Caetano

Os dias felizes

Os dias felizes estão entre as árvores ,
como os pássaros;
viajam nas nuvens,
correm nas águas,
desmancham-se na areia.

Todas as palavras são inúteis,
desde que se olha para o céu.

A doçura maior da vida
flui na luz do sol,
quando se está em silêncio.

Até os urubus são belos,
no largo círculo dos dias sossegados.

Apenas entristece um pouco
este ovo azul que as crianças apedrejaram;

formigas ávidas devoram
a albumina do pássaro frustrado.

Caminhávamos devagar,
ao longo desses dias felizes,
pensando que a Inteligência
era uma sombra da Beleza.
Cecília Meireles

Dias muito felizes os de tua infância ,para mim.
Toda minha.Todo meu.Teu riso,teu "descobrimento " da vida.
Dias felizes os dias de ontem,os dias de hoje.
Redescubro a vida com a vida.
Relva verde na manhã para meus pés cansados.
Entardecer sereno para meus olhos distantes.
Esperança boa no sonho renovado.
Dias felizes.
Porque quero.
Exijo.
Mereço.
Merecemos.
Passa de lado a tristeza, que o riso é vacina testada.
Ah, quem dera o verso do poeta para definir sentimento de tal grandeza.
O mesmo verso que encanta, espanta ...riso...dor.Alegria ...amor.
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Formas diferentes do mesmo amor

Luciano,
meu filho ternura.
Para sempre menino.
Prematuramente homem.
Incoerência?
Não.
Vida.
Te amo.
Ver-te com Tiago ,faz-me ver formas diferentes, mas da mesma intensidade de amor.
Amo,amo,amo!!!
Os dois.
Duas vezes feliz. .
Milhares de vezes bate o coração nessa música que vêm de voces numa dádiva inteira e só de amor.
Mãe
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sábado, março 18, 2006

Alecrim Dourado

Alecrim ,alecrim dourado
que nasceu no campo
sem ser semeado...
Foi meu amor
que me disse assim:
Que a flor do campo ...
que a flor do campo é o alecrim.

Caetano ,
menino cantor,semeias música no coração da vovó.
Cançaõ de amor.
Ternura.
Paz.
Caetano,
menino amado.
Sorriso escancarado.
Olhinho de jabuticaba.
Abraço de"ursinho"
apertado.
Nas observações, de quem se importa.
Precoce poeta
Voz de passarinho,
coração de leão.
Me explica menino, como não te dar meu coração?
Vovó.
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Raízes no teu coração.

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver sómente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente , ir a seguir
A ausênsia de ter um fim
E da ânsia de o conseguir!

Viajar assim é a viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa

Raízes de minha alma, plantei-as fundo em teu coração.
Tu me levastes esse tempo todo contigo.
Retornas,visitas,retornas.
Para sempre contigo ,meu coração navega nos mares de teu humor,amor,saudade.
"O resto é só terra e céu."
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Amanheço

De manhã escureço
De dia ardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasco amanhã
Ando onde há espaço:
-Meu tempo é quando.
Vinicius de Moraes

Depois de quase quatro anos,meu caçula volta de Londres(muito além dos mares que já pude imaginar) para uma breve visita.
Nesse tempo "quando" preciso ter o riso constante do coração em festa ,morrendo um pouco na véspera estremecida nessa lembrança da próxima despedida...não é que rimo?É de tanto ler e viver com poetas.
Penso:Encurtam-se meus dias, alonga-se minha alma.
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Noturna Travessia


Tive muitas vezes, no meio da noite o acordar sobressaltado, certeza de efemeridade.
Não tenho mais.
Hoje, acordo no meio da noite com a certeza da paz. Definitiva.Minha.
Ah,essa certeza é mil vezes a vida mais feliz.
Houve é claro um tempo que pensei que até para partir , precisava de meus amores amarrados ao coração.
Hoje sei que os deixo livres.Para viver melhor.Todos.
Nesse tempo de infantilidade, temores da efemeridade ,agarrava-me aos versos de Neruda.

Imortalizava com ele.
Ainda vou poetando nas noites.

Tranquila, finalmente feliz do tempo que tive, do tempo que ainda possa ter.
E canto poeta ,contigo.

"De noite, amada , amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem as trevas
como um duplo tambor combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.

Noturna travessia, brasa negra do sonho
interceptando o fio das uvas terrestres
com a pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.

Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate
com as asas de um cisne submergido,

para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra."
Pablo Neruda

terça-feira, março 14, 2006

Poema do semelhante

Posted by Picasa O Poema do Semelhante


O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,
Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.
Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.
Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
Eh mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.
O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.
O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente
Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.
Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperançaElisa Lucinda
O Poema do Semelhante
O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,
Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.
Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.
Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
Eh mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.
O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.
O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente
Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.
Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança
O Poema do Semelhante
O Deus da parecença
que nos costura em igualdade
que nos papel-carboniza
em sentimento
que nos pluraliza
que nos banaliza
por baixo e por dentro,
foi este Deus que deu
destino aos meus versos,
Foi Ele quem arrancou deles
a roupa de indivíduo
e deu-lhes outra de indivíduo
ainda maior, embora mais justa.
Me assusta e acalma
ser portadora de várias almas
de um só som comum eco
ser reverberante
espelho, semelhante
ser a boca
ser a dona da palavra sem dono
de tanto dono que tem.
Esse Deus sabe que alguém é apenas
o singular da palavra multidão
Eh mundão
todo mundo beija
todo mundo almeja
todo mundo deseja
todo mundo chora
alguns por dentro
alguns por fora
alguém sempre chega
alguém sempre demora.
O Deus que cuida do
não-desperdício dos poetas
deu-me essa festa
de similitude
bateu-me no peito do meu amigo
encostou-me a ele
em atitude de verso beijo e umbigos,
extirpou de mim o exclusivo:
a solidão da bravura
a solidão do medo
a solidão da usura
a solidão da coragem
a solidão da bobagem
a solidão da virtude
a solidão da viagem
a solidão do erro
a solidão do sexo
a solidão do zelo
a solidão do nexo.
O Deus soprador de carmas
deu de eu ser parecida
Aparecida
santa
puta
criança
deu de me fazer
diferente
pra que eu provasse
da alegria
de ser igual a toda gente
Esse Deus deu coletivo
ao meu particular
sem eu nem reclamar
Foi Ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par.
Não fosse a inteligência
da semelhança
seria só o meu amor
seria só a minha dor
bobinha e sem bonança
seria sozinha minha esperança

Elisa Lucinda

Vivendo com Neruda e muitos,muitos outros poetas.


Em cada dia, noite , instante vive comigo um poeta. Na companhia de muitos , sou só. Natureza por demais humana.
Mas vive um poeta comigo .Sempre.
E é bom. Bom demais. Não me abandona nenhum poeta. São meus, deles sou inteirinha.

"Penso, esta época em que tu me amaste
irá por outra azul substituída,
será outra pele sobre os mesmos ossos,
outros olhos verão a primavera.

Nenhum dos que amarraram esta hora,
dos que conversaram com o fumo,
governos, traficantes, transeuntes,
continuarão movendo-se em seus fios.

Irão os cruéis deuses com óculos,
os peludos carnívoros com livro
os pulgões e os pipipasseiros.

E quando estiver recém lavado o mundo
nascerão outros olhos na água
e crescerá sem lágrimas o trigo.
Pablo Neruda