sexta-feira, dezembro 15, 2006

Meu Luciano


Eu te quero, na manhã ensolarada
Na madrugada emburrada
Na chuva doce
Chuva, de trovões povoada
No raio que iluminando ,escurece
De medo, os que não tem fé
No arco-íris refletindo água
Num céu todo sol.

Eu te quero na noite estrelada
na noite de todas as luas
Eu te quero, noite sombria
Te quero e muito
de qualquer forma
de qualquer jeito e lugar
Te quero no meu colo
Me quero em ti
Te quero meu
Velo teu sono
Cuida dos sonhos meus
Te quero assim
Sem medo
Sem dó de amar
Com nó de sentimento atado
Para sempre tua
Menino, Luciano, meu.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Amor-perfeito


Eu te procuro nas flores,
amores -perfeitos.
Te procuro na noite
Como lua cheia,
cheia de estrelas, o céu.
São amores-perfeitos
ou serão astros?
Brilho de quem, há muito já foi?
Eu te procuro na vida,
na pele,
no cheiro,
sabor.
Nem no sonho te encontro.
Perdi
teu cheiro,
pele,
gôsto,
amor.

Eu te procuro sempre e para sempre
Perfeito-amor.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Casinha Branca


O tronco nodoso, enrugado, anuncia da árvore, velhice.
As flores pujantes, juventude.
E no fundo uma casinha branca, sugere paz.
E a cerca, segurança.
Olhos enganados ou não, basta sonhar.

sábado, novembro 18, 2006

Silêncio...e um pouco de Neruda.


Teu silêncio é uma porta fechada.Teu silêncio é uma porta que não quero abrir.
Já espiei por tuas frestas.
Não.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Oferta


Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, perpétuo é teu socorro ?
Socorrei-me vós...ou socorro-me eu?
É bem mais certo que socorra-me eu.Há tantos a pedir, tão poucos para ofertar.
Oferto-me.
Bendita entre as mulheres por amar o filho teu.
Bendita eu, amo tanto os filhos meus.

Fui...





Fui
a que amastes
um dia, sonhastes.
Fui.
Hoje,
Sou.
A que nunca fui.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Brincadeira Feliz


Há , lá fora , na paisagem quase desabercebida, tantas vezes olhada, noites enluaradas, muitas só de estrelas bordadas no esconde esconde das nuvens, brincadeira feliz dos astros.
E, muitas vezes dormem ,inconsequentes da escuridão de quem não guarda estrelas.
Eu, guardadora de estrelas, caminho de lua, gosto da noite, clara ou escura, gosto da noite tão minha quando sou tão tua.

quinta-feira, outubro 26, 2006


Menino meu Caetano...

Tu beijas
Elas beijam
Nós beijamos

Menino meu Caetano...
não tem preço um beijo teu!

Vovó Nise

Quando eu pensei que estava livre, rasgaram minha carne, teus espinhos.


Ivanise

domingo, agosto 27, 2006

Ei, você aí!!!

Ei você aí,que passa, que vem, que vai, explica sim, explica não...até quando o quando ?
Ei você aí, até o muito é nada?
O nada, muito?
Ei você aí...
Segue livre de meus questionamentos , de mim.
Que é bonito demais o entardecer, a noite se anuncia enluarada, estrelada,serestada de amores mil.
Ei, você aí...
Cuida do tempo.
Cuida da vida.
Vivendo, ama.
Alimenta teu sonho, leva meu riso para onde cultivado ainda brote em gargalhadas.
Leva assim , um pouco de minha felicidade.
Ei, você aí, dança meu ritmo, embala minha alma em papel celofane para que eu possa espiar o quando e o onde, esquecida da dor, deslumbrada de amor.




Recebe com graça as dádivas, com ternura o olhar pedinte, retribue.

Há no ar um aroma de mar, no coração ainda um jeito de amar, na boca ainda teima, um hábito de orar.
Um dia , folha jogada ao vento, ainda assim, prisioneira do amor,lembrarei dos frutos, exultarei na lembrança da flor.
Nise
27-08-06

sexta-feira, agosto 25, 2006

Canção

Se deixar,
eu falo.
Se pedir,
eu canto.
Se ouvir,
eu choro.
Se puder,
eu danço.
Se gritar,
eu calo.

...e a noite avança, os versos rimam, a alma canta.
Nise 25-08-06

quarta-feira, agosto 09, 2006

Contando estrelas...

Um dia
como qualquer outro,
igualzinho a todos.
Um dia,
acordarás no mesmo dia.
No dia
em que já não és.
Escutarás música
(Um convite para dançar)
Riso de crianças,
vontade de brincar.
O sol brincando.
Tua sombra
dança na brisa
que mexe teus cabelos.
Teus braços
abraçam o tempo
que já não é teu.
Tua boca, beija todos os beijos.
Teus olhos,
buscam teu desejo.
Trazem olhares,
que já foram teus.
Cheiras no ar
um convite de amar.
Observas a vida.
Procuras por ti,
não vais te encontrar.
Nunca mais a mesma.
Quem sabe melhor,
igual...
nunca mais.
Que venha o convite
para dançar.
Vozes amigas,
te façam feliz.
Porque é tão pouco,
breve demais,
o tempo daqui.
Permitam que cantes,
afinado, seja teu canto
no amor.
Definitivamente,
na dor.
Concede-te o tempo
da felicidade,
da colheita.
Logo o sol se põe
Então...
"contarás estrelas.."

quinta-feira, julho 13, 2006

Oceano


Não vejo o mar, tampouco barcos, muito menos marinheiros na despedida de quem sabe, a última viagem, ou felizmente a última despedida.
Não vejo o mar faz muito tempo. Não sinto a água fria, a batida repetida e nem por isso incomodativa, um prazer, as ondas, uma carícia, fustigada, mas carícia.
Não cheiro o mar. O vento não me arrepia a pele, não sacode meus cabelos, não levanta areia, passa tão longe, perdi do vento o toque.
Há uma saudade quase depressiva nestas lembranças do que quero. Depressão não é. Não acredito nela.
Acredito na saudade, no sentir o que já foi numa viagem pra alma, no desejar o que nunca terei num mergulho do que penso que sou.
Olho a gravura, desejo o abraço.
Recordo o mar, pretendo oceano.
Vejo a janela fechada, preciso paz.
Não abra a janela, o escuro me atrai, o silêncio me embala, não ser está bom demais.

sábado, julho 08, 2006

Volta

Saio a te buscar.Caminho ruas esquecidas, transito o conhecido tão desconhecido, incógnita de mim.
Olho o jardim alheio, secou meu jardim.
Nos olhos de quem vejo, nada vejo.Cegos olhos meus.
Saio a te buscar porque te sei perdido.
Ponho anúncio nos jornais:Volta que te dou colo, uma cantiga,muitas carícias, te restituo a esperança, mando embora a dor.
No meio de tantos ruídos, gente trabalhando, crianças na lida de brincar, tento que me ouças e voltes.
Saio e te busco.Se te encontro, cuido tanto de ti.
Prometo.
Volta pois, que ainda faço valer .
A cantiga mais terna, embalo teu sonho, desperto teu sono,volto contigo.
Finalmente.
Para sempre.
Tu e eu.
Refaço os canteiros, replantos as flores, arrumo o ninho, canta passarinho, volta meu coração.

terça-feira, junho 27, 2006

Cartas



Tempo houve, que as cartas de tal forma me atraíam, que passar muitas horas, às vezes, noites completas num jogo de pif-paf, pôquer, pontinho, era o ponto máximo de diversão da semana, do mês...até do ano.
Quando algum companheiro abandonava o jogo, surpreendia-me a "coragem", perguntava-me: Como conseguiu???
Sonhava com as cartas.
A convivência com as parceiras, depois amigas, era com certeza mais do que lúdica, um preenchimento das noites insones e... insanas.
Todavia, não éramos parceiras na bebida, no tabaco.
Nunca fumei, não gosto de bebida alcoólica.
Esses elementos foram fator determinante para afastar-me das cartas.
Lembro, com uma vaga sensação de perda, a delícia de abrir devagarinho as cartas, de correr os olhos na mesa, de ganhar, de perder, de jogar.
Lembro com muita saudade dos parceiros, dos amigos.
E hoje, nessa noite tão fria, deu-me uma vontade imensa de estar novamente com todos...e as cartas.
Doutor Cid sentava-se sempre ao meu lado.
Não fumávamos.
Procurávamos um ar mais puro.
Saudade.
Do outro lado, Irene, sua esposa e minha amiga querida, sorria , cúmplice de nossos segredos.
Nós sabíamos cada movimento , cada carta, éramos muito amigos.
Ele com quase setenta anos, na época entendia bem demais a quase menina de trinta e cinco anos que sentava-se ao seu lado.
Aprendi muito com ele, com Irene.
Lembro de Nazy, sagaz...demais talvez.
De Zita, que jogava com uma elegância ímpar.
Dete, italiana barulhenta, que brincava e brigava com as cartas.
Anfitriã das cucas maravilhosas da madrugada.
Lembro de todas.
Geni, tão arrojada. Inês, desconfiada, tímida, cozinheira sem igual. Disseram-me que Teresa está muito doente.Tão vaidosa e cheia de si, tão delicada e feminina.
Dona Marieta, de todos nós, a mais velha, uma lição de como ser distinta, educada, na derrota, na vitória.
Seu Pedro, que jogava brincando de ser feliz.
Seu Artemio, nosso "Roberto Carlos".
Dr Arnaldo, Seu Arno, Dr Sérgio (esse me chamava de bruxa), saudades! Tia Irma retirou-se do jogo, logo que conheceu um novo amor.
Dona Terezinha, uma lady.
Para todos, era eu, uma menina.
Para mim, são todos parte de minha vida, do aprendizado das cartas.
Alguns já partiram. Outros ainda por aqui, se reúnem de quando em vez e continuam no jogo.
Eu, morrendo de saudade de todos, queria nesta noite uma mesa redonda, a expectativa feliz das cartas, as novidades, o carinho, a boa comida, cafézinho...e, mesmo que tivesse de respirar por uma fresta de fumaça, a sensação inesquecível do jogo que não jogo mais,
agora que jogo com a vida.

sábado, junho 24, 2006

Pacto com o Diabo.


Como uma velha árvore, vou entortando o tronco. Vergando, não.
Ouço falar de um pacto que não foi feito com o diabo.
O pacto seria de ''VIVER"comigo o que sou e o que vivo.
Sou uma árvore envelhecida, sem a capacidade do fruto, por isso mesmo sem flores.
Mas tenho no tronco a marca do tempo que vivi e amei.Nos galhos, ramificação de mim, liberta de mim, nas sementes que o vento levou , a terra abraçou.
Vou viver um pouco mais, um muito mais.Não faça nem desfaça pactos.
Ainda sou.
Van Gohg, obrigada pela pintura, pelas árvores tão frondosas, aparentemente inatingíveis.

domingo, junho 18, 2006


Achei essa foto nos meus passeios pela web.
Nua, equilibrando-se num arame farpado.Mas com diáfanas asas.Num descuido, num mergulho, frágeis asas...a sustentarão?
Se posso sonhar, posso voar.
Se vôo, sonho.
Sonhando, sobrevivo.
Sobrevivendo, posso amar.
Deve bastar.

Rosas

"Trago-te rosas frescas e orvalhadas
colhidas no jardim de meu amor.
Repara, têm a cor das madrugadas
Querem ficar em tuas mãos amadas
delas sentindo todo seu calor."


Que lembre, este é um dos primeiros versos que decorei. Achei tão lindo na época, o decorei. Trago-o comigo, faltam-me mãos.

sexta-feira, junho 16, 2006

Menino meu amado.

Te imagino assim, sei que é mais modesto onde vives, mas assim te imagino.
Quando voltas do trabalho, gosto de saber que ela te espera para cuidar-te e amar-te. Ser cuidada e muito amada.
E por responsabilidade da imaginação,vivo um pouco mais tranquila de saber-te bem, mesmo tão distante.
Hoje foste tu quem primeiro falou comigo. Breve telefonema, intensas palavras. De amor.
Eu te amo meu filho. Te amo muito mãe.
E o oceano vira uma poça d'água, a distância perde o sentido, por breves mas para sempre meus instantes, estás comigo.
Sei que um dia tua permanência vencerá a ausênsia, nosso amor zombará da distância, a saudade vai ser apenas uma palavra bonita.
Enquanto esse tempo não vêm, é nela que me abraço, faço acalantos para meu menino dormir bem, cuidado, amado , em paz.
Mãe

sexta-feira, junho 02, 2006

Olhos



Não tive criação para baixar os olhos, para esquivar-me,
fuga não há para meus olhos.
Olho de frente, olhos bem abertos, e meus olhos bailam se música há.
Olhos pequenos, pode se ver, mas de larga visão.
Visão da vida, das flores,das penas, do que é nosso , do que é alheio.
E aprendendo a " magia dos caminhos" necessito -os bem abertos.
Aprendendo a desviar pedras pontiagudas (nem por isso menos belas) brincando com as pedrinhas coloridas de prazer e amor.
Observo que meus olhos não têm a mesma capacidade , preciso de óculos, para leitura, dirigir, exigente a vida quando mais quero ver.
Mas não é um lamento, não.Aceito as consequências de alcançar caminhos, situações.
Olho de frente, altiva , firme.Foi assim que me ensinou meu pai.Olhos esquivos são olhos de mentira, de enganação.
O mais importante é que tenho olhos amorosos, perdidos em busca de reciprocidade.Para sempre perdidos.Mas olham , mesmo assim.
Preciso agradecer.Todo dia de minha vida.Por esses olhos, por esse coração cheio de "olhos", por amar.

quarta-feira, maio 31, 2006

Outono

Nesse mês de maio, nesse outono quase inverno, tal qual as árvores, vou me despindo.
Deixo cair peça por peça, liberto-me (pelo menos tento) de largar ao vento como folhas caídas, a roupagem gasta e inútil de meus sentimentos.
Há uma energia no ar.
O tronco quase seco das plantas, árvores recolhem seiva e energia para passar o inverno e explodir em cores e flores na primavera.
Eu, só quero esperar o inverno.
Inverno, minha estação favorita.
Aconchegar-me ao fogo, fingir que é teu abraço, tomar um mate, desejando teu beijo.
Um chocolate quente talvez, que aí a memória é mais clara.
Quero o inverno para sentir-me viva.
No abraço dos blusões de lã, a certeza senil de ser amada.
Não, não quero a primavera.
Quero o inverno.
Na primavera, as árvores rebentam folhas, alargam seus braços protegendo os pequenos brotos das sementes lançadas no tempo, que a natureza parecia descansar.
Já não há terra para minhas sementes.
Uma folha em branco para escrever porque ainda penso, sinto e pretendo querer.
Ah, esse querer...
Seria tão mais sábio não querer. Tu me dissestes. Muitas vezes.
O problema é querer.
E quero o inverno, chuva, frio.
Quero olhar enquanto é outono a cerimônia perfeita das árvores despindo-se.
Quero despir-me com elas.
Inverno, dá-me um abraço.
Quiçás um beijo.
Dá-me o sono quentinho, o ventre que há muito perdi.
Dá-me eu, um pouquinho mais.
E depois, que venha a primavera.
Para meus filhos, para todos que amo, para todos que existem, porque se verdade existe, é que não sei mais do que amar, não conheço o caminho do rancor, tampouco onde mora ou se esconde.
''Basta-me um sorriso, um gesto feito de longe...'', um olhar mais afetuoso...penso-me amada e sou feliz.
Hoje, manhã de outono ensolarada, depois de muitos dias de chuva.
A natureza lavada, eu limpa, de corpo e alma, entrego-me ao desejo de um encontro que sei, nunca terei, apenas nos meus sonhos te encontro. Um tapete alaranjado e marrom, de folhas secas caídas, denunciarão teus passos.
Mesmo que só eu os ouça, uma vez para sempre guardados na memória amorosa de mim.
Que venha o inverno e as longas noites, que venhas no vento murmurar meu nome, nas frinchas da casa como um fantasma, ainda assim te reconhecerei...
para sempre perdido e sempre esperado, amor meu.

terça-feira, maio 30, 2006

Harmonia Velha



Harmonia Velha

Guilherme de Almeida

O teu beijo resume

Todas as sensações dos meus sentidos
A cor, o gosto, o tato, a música, o perfume
Dos teus lábios acesos e estendidos
Fazem a escala ardente com que acordas o fauno encantador
Que, na lira sensual de cinco cordas,
Tange a canção do amor!
E o tato mais vibrante,
O sabor mais sutil, a cor mais louca,
O perfume mais doido, o som mais provocante
Moram na flor triunfal da tua boca!
Flor que se olha, e ouve, e toca, e prova, e aspira;
Flor de alma, que é também
Um acorde em minha lira,
Que é meu mal e é meu bem...
Se uma emoção estranha o gosto de uma fruta,
a luz de um poente - chega a mim, não sei de onde,
e bruscamente ganha qualquer sentido meu,
é a ti somente que ouço, ou aspiro, ou provo, ou toco, ou vejo...
E acabo de pensar
Que qualquer emoção vem de teu beijo
Que anda disperso no ar...


Praia


Praia

Lila Ripoll
Meu peito é uma praia lisa
e de aparente quietude.
Suas águas mais parecem
as águas mansas do açude.
Tudo ordenado, perfeito:
areias, pedras e mágoas.
- Haverá algum pensamento,
nesta noite, sobre as águas?

Perfume de Flores Perdido


Perfume de Flores Perdido

Marília Kubota

Certo, seus olhos guardam
uma vela menor
dentro de velas que derreteram
enquanto os santos partiram em férias
Certo, o rancor é uma flor cultivada em concha como pérola
Mergulhadores saltam para o abismo
tateando sais
que fustigam a sede no mar profundo
Ostras devoram os membros
indecisos
Certo.
Deixe seus pés seguirem o perfume
sem perguntar
Onde.

Para meu amor, Bruno, que além de espiar, cuida de meu coração

Chove muito.
Foi longa demais a estiagem.
A terra, banha-se.
A natureza, festa. Eu observo.
A casa protege-me de um mau tempo tão bom.
Acenderei a lareira, escutarei a chuva, beberei café.
Tudo parece tão trivial.
Escuto os trovões, relâmpagos espiam por minha janela.
Oi, vem cá, chove chuva, troveja tempo, espia meu coração.

segunda-feira, maio 29, 2006

As palavras...

A palavra
Pablo Neruda
... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras,feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.


...e com as palavras o Poeta.Obrigada, Neruda!

sábado, maio 27, 2006

Tio Dilair

Tio Dilair,
nos caminhos e descaminhos de minha vida, sempre estivestes comigo.Nas boas e más passagens.Mantivestes a mesma paisagem, de carinho,meu tio, tão amado.
Nunca sabemos de verdade o caminho.Nós o vemos, enfeitamos, até perfumamos...e muitas vezes, na maioria, não é nosso.
Um pedido tio, olha por teu coração, te cuida.Pedido por demais egoísta. De verdade eu te quero para sempre meu tio querido, cuidando de me chamar de filha, me fazendo filha, menina e amada.
Um poema para quem sempre entendeu e amou essa "menina" que ainda habita minha alma.

A Alegria

No fundo de um poço
deitei a Alegria,
dizendo-lhe:"Espera,
com louros e rosas,
Amor e Poesia."

No fundo de um poço
por que a deitaria?
por que desprezava
sua companhia?
pensei que no mundo
tudo padecia.
Ai, como o pensava!
E não a queria!

No fundo de um poço
deitei a Alegria.
Chegaram os tristes
por quem eu sofria.
Consigo a levaram
- e de longe o via!-
Nunca perguntaram
a quem pertencia.

Sofrer por sofrer,
sómente eu sofria.
Os outros- apenas
querendo alegria

À beira do poço
voltarei um dia.
Pousarei meu rosto
na água negra e fria,
em ramos serenos
de Amor e Poesia.
Direi meu segredo
sem melancolia.
E na água profunda,
sem noite nem dia,
eu mesma serei
minha companhia.

Eu quis outra coisa
que ninguém queria.
nem tenho saudade
da antiga Alegria.

Cecília Meireles

quinta-feira, maio 25, 2006

Quase esqueci...

MAPA ASTRAL
(Poema de improviso)
Não conheço meu ascendente
nem sei em que casa o Sol estava quando nasci
apenas aprendi a sentir seu cheiro nas manhãs
embaixo do cobertor
no calor dos sorrisos
nos abismos que não investigamos
e sou assim meio desligado (agora lembro de uma canção) mas não sei o meu ascendente
ou em que Lua estamos
apenas pretendo descobrir uns atalhos
uns caminhos de luz
para te acompanhar em qualquer jornada
em qualquer constelação
mas sou um astro vagabundo que a cigana inventou
mas sou um astro vagabundo que anuncia o fim do mundo
sou um astro vagabundo que procura uma órbita
que procura estrelas no chão
Não conheço meu ascendente mas te procuro
mas te encontro
ainda que distraída não percebas
a trajetória de meus cometas
em teu céu.
Flávio Machado
(poesia e foto do blog de minha amiga Jade Dantas:Singularidade)

Eu andava nessa vida tão distraída que quase esqueci de viver.
Nise

segunda-feira, maio 22, 2006

Não me acorde não... e alguns pensamentos de M.Bandeira

" Se o perdido é o objeto privilegiado do desejo, o objeto perdido é o que o amor mais busca."

"Quem disse que eu não te amava?
Amo-te mais que a verdade."

"Bem que velho,
te reclamo.
Bem que velho ,
te desejo,
quero e chamo."

"O meu amor de agora é só amor, não é de agora."
(anônimo)

"O amor é uma promessa e assim faz doer e faz sonhar, entrega-me à tristeza para produzir imprevisívelmente o encontro - que o amor só se encontra onde não é procurado, aparece e se dá."

Conheço a dor e o prazer. A paixão e a solidão.E como deixar a rima?Amor e Dor? Dor e Amor? No sonho. Então não me desperte não. Deixa eu ser feliz. Uma pausa exigida , para um coração . Ivanise

 Posted by Picasa

Quase Inverno



É um quase inverno.

Tenho na alma, uma tela de Van Ghog, exatamente assim.

Um céu azul, um tronco envelhecido ...e muitas flores, festa de flores florindo.

Minha filha fez uma pequena tela com essas flores (um talento, minha Ivana!), e me faz feliz. A tela, Van Ghog, a vida.

Vou esperar pelo inverno, viver o inverno como fosse ele uma primavera.

Porque há flores nas ruas, florescem luas

Flores na alma, mantenho a calma

Reflito a vida, floresço no teu jardim

Flores perfumam, flores ofertam

Flores florindo,

Flores de Van Ghog

Hoje,

por mim.

sexta-feira, maio 12, 2006

Herança

Acho que esse blog podia ser chamado do blog da vovó, da mãe.Encontro imagens antigas( essa é de um ano atrás,ou mais...) a emoção renova , o instante que parecia perdido está aqui.
E aqui estou eu, mais uma vez feliz demais por meu Caetano, por meus filhos, por saber que sou deles, muito mais do que são meus, porque essa é a ordem natural das coisas. Porque tenho muito mais que ama-los, protege-los, cuidar (muito egoísta) da única herança real de mim.
Herança bonita demais. Tenho orgulho. Sou.


Sabor de amor


"Esse sabor de amor ninguém me toma"





Um sentimento.

E basta.
Por hoje basta.

Nise

quarta-feira, maio 03, 2006

COLHAMOS FLÔRES



"Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos,
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flôres.

Não há tristezas
nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos
Sábios incautos,
Não a viver.

Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Tendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza...

À beira -rio,
Á beira- estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.

O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.

Não vale a pena
Fazer um gesto,
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.

Colhamos flôres,
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.

Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos,
Tranquilos , tendo
Nem o remorso
De ter vivido."

Fernando Pessoa.


...e vou vivendo, colhendo flôres, me rasgando nos espinhos, bebendo meu próprio sangue.

Nise





sábado, abril 29, 2006

Despedida


"Se tiver que ir, vai
O que fica para trás,
não sendo mentira
não racha
nem rompe,
não cai.

Ninguém tira
Já que vai
segue se depurando pelo trajeto,
para desembarcar passado a limpo,
sem máscara,
sem nada,
sem nenhum desafeto.

Quando chegar,
sobe ao ponto mais alto do lugar,
onde a encosta do mundo
faz a curva mais pendente

Onde
de onde eu estiver,quero enxergar
esse momento em que você vai constatar
que a vida vale grandiosamente a pena."
Flora Figueiredo

Sigo os passos de quem amo, sem siquer a pretensão da sombra.
Sigo com as pernas,os olhos,todo meu corpo vestido de alma
Para a grande festa (de vocês) , de triunfo, compreensão do que vale mesmo nessa vida. Grandiosamente.

Emergência


Emergência
Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas tem ritmo
-para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva uns afogados.
Mário Quintana


Nesse riso compartilhado, no abraço afetuoso, almas irmãs de tantas histórias parecidas, almas irmãs na vontade de querer-nos bem.
Amiga Cenira, minha homenagem.
Meu agradecimento.
" Quando posso conversar contigo, sentadas , sem horário, entre nós duas o mate repetido, sinto que o coração canta em meus lábios"Larralde

Brinde

" Uma vez que se ignora o que é que nos reserva
O dia de amanhã, busca ser feliz hoje.
Vai sentar-te ao luar e bebe.Pois talvez
Não vivas mais quando amanhã voltar a lua.
Omar Khayyam

No gesto, o brinde.No cálice o vinho.Nos olhos o sorriso, na boca a felicidade.
Amiga minha Cenira,brindamos a nossa amizade.
Mas de verdade "guerreiras mulheres" brindamos à nossa coragem.
De viver.
E muito amar.
Teu riso ecoa na sala, na cozinha, na varanda. Teu riso ecoa no meu coração, teu riso é ouro.Eu sou apenas coadjuvante de tua alegria.
Coadjuvante feliz.

sexta-feira, abril 28, 2006

Quintana para Caetano

Velha História
Era uma vez um homem que estava pescando, Caetano. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenino e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no "17"! - o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a chícara
(*) de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava lajanjada por um canudinho especial...Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. e disse o homem ao peixinho:"Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubarte por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!..."Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n'água. E a água fez um redemoinho, que foi depois serenando, serenando... Até que o peixinho morreu afogado...

Soneto 30

" Soneto 30


Quando à corte silente do pensar
Eu convoco as lembranças do passado,
Suspiro pelo que ontem fui buscar,
Chorando o tempo já desperdiçado,
Afogo o olhar em lágrima ,tão rara,
Por amigos que a morte anoiteceu;
Pranteio dor que o amor já superara,
Lastimando o que aconteceu;
Posso então lastimar o erro esquecido,
E de tais penas recontar as sagas,
Chorando o já chorado e o já sofrido
Tornando a pagar contas já pagas,
Mas, amigo, se em ti penso um momento,
Vão-se as penas e acaba o sofrimento.

Shakespeare."

Amigos , que a morte anoiteceu.
Amigos , amanhecendo.
Amigos , comigo, entardecendo.
Obrigada.

Sina


"Vivo sou. Estou. Vivo e mortal.Cumpro minha sina. Que jeito? O que a vida me dá de gozo, sorvo; o que me cobra, purgo. Alegre, se possível, seja para dar claridade aos gozos; seja para diminuir o peso do infortúnio.
Não rogo pragas, não reclamo nem lamento.(mas lembro...) Só me exerço no que sou. Sinas cruzadas, digo eu,tantas são as vidas que vivo, imaginando e existindo, me achando e confundindo. Essas vidas minhas de fazer de conta, às vezes mais reais . sentidas e sofridas, do que esta que se diz minha vida verdadeira. Ela é o estuário em que desaguam alegrias e pesares, reais e imaginários de minhas vidas todas."
Darcy Ribeiro
Tu não perdes o que nunca foi teu.Nem sonhas o sonho alheio.
Tu ganhas , quando amas o inimaginável amor. Ganhas.
Antes que seja tarde
Enquanto a palavra arde
O peito queima
A dor consome
E a alegria ainda teima em dançar
Tango apaixonado.

Ah, antes que seja tarde,
Lembra do quanto te amo,
do quanto um dia
Pensastes que me amavas.
Antes que nessa vida seja tarde.
Porque é agora que quero dançar.
Agora tenho certeza.
Antes que seja tarde
Por ti.
Nise

sexta-feira, abril 21, 2006

Flôres Murchas


"Flôres Murchas

Pálidas crianças
Mal desabrochadas
Na manhã da vida!
Tristes asiladas
Que pendeis cansadas
Como flôres murchas!

Pálidas meninas
Sem amor de mãe,
Pálidas meninas
Uniformizadas,
quem vos arrancara
Dessas vestes tristes
Onde a caridade vos amortalhou!

Ai quem vos dissera,
Ai quem vos gritara:
- Anjos debandai!

Mas ninguém vos diz
Ninguém vos dá
mais que o olhar de pena
Quando desfilais,
Açucenas murchas
Procissão de sombras!

Ao cair da tarde
Vós me recordais
- Ó meninas tristes!-
Minhas esperanças!
Minhas esperanças
-meninas cansadas,
Pálidas crianças
A quem ninguém diz:
-Anjos, debandai! "


Manuel Bandeira.



Muitas vezes os anjos chamam.E, aos gritos.
A vontade de viver, esperança de mudanças é muito maior.
Gritai ó anjos, sacudi o corpo, rasgai as vestes, contai.
Que a poesia tarda a chegar, que a falta é permanente.
É preciso mais do que coragem para sobreviver.
É preciso "anjos". Ser os próprios.
Por isso mesmo..."Anjos , debandai!"
Nise


Cecília Meireles









"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." (Clarice Lispector)

sábado, abril 15, 2006

Mocinha...


Surprende-me teu convite.
Não por duvidar tua admiração ou amor por teu avô.
Surprende-me o reconhecimento.
A maturidade.
Menina tão amada minha.
Flora de muitas flôres.
Jardim de meu , muitos amores.
Espia por teus olhos, os olhos de meu pai.
Antes dos olhos de teu pai.
Uma corrente contra a " correnteza" por vezes feroz demais nas nossas vidas.
Te amo.
E por hoje basta, que meu coração não é assim tão jovem quanto eu.

sábado, abril 08, 2006

Um pássaro na mão...

" O que me preocupa não é o grito dos maus.
É o silêncio dos bons".
Martin Luther King

Treme o pássaro, firme a mão.Coração descompassado .Liberta-se o pássaro.
Vôa.
E a mão?
Recolhe-se ao braço inerte, sem vôo.
Porque o vôo maior é falar. Contar. Cantar.
Solidarizar.
Ser o outro.Sentir. Gostar.Viver. Amar.
Ah, não vale nada um pássaro na mão.
Milhares de vôos nos pássaros libertos, um coral ouvido se ousarmos cantar.

Nise Posted by Picasa