quarta-feira, janeiro 27, 2010

Viagem

Eu queria , viagem de barquinho,
Quando te afastas

E ficar, no cais, na praia
Acenando, chorando
Todo o tempo que quiser
Disfarçando depois no regresso,
Que ainda sou, inteira.



Nise
São Gabriel, 17-01-10
EU QUERI VIAGEM DE BARQUINHO Posted by Picasa

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Teu rosto

E havia tanta ternura nos teus olhos quando

erguestes os óculos que precisei devolver o ar com o qual engasguei feliz.Por breve instante voltei no tempo, lembrei.
Por um tempo infindo, agora,  quando me faltar o real, navego aqui bem no fundo de teus olhos que assim amei.


Nise
São Gabriel,19 de janeiro de 2010.
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Nós

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quarta-feira, janeiro 13, 2010

...o pior é o que vives ou o que sentes?



PIOR É NÃO PODER.


É O QUE NÃO POSSO , NÃO SONHO NEM QUERO.


PIOR DE QUE NÃO PODER É NÃO QUERER.


DE O QUE NÃO SONHAR , O PESADELO.


DO NÃO QUERER É PEDIR.


DE PEDIR, ESPERAR.


NUNCA ESPERE NADA.AGARRE O QUE PENSE SER SEU.


PORQUE PENSAS MAS NÃO É.


PIOR DE TUDO É AINDA ESCREVER E OUSAR QUE POSSA HAVER ENTENDIMENTO.


TU NÃO ÉS NADA, NÃO PRETENDAS NADA.


TU ÉS TUDO, ABRACE O MUNDO.


TU ÉS TU E MAIS NADA.


TU , E TEUS SONHOS TOLOS DE RECIPROCIDADE.


EU TENHO RAIVA DESSE TU ASSIM .


APRENDI A TER MENOS OU POUCO, NENHUM RESPEITO POR MIM.


















NISE


SÃO GABRIEL,12 DE JANEIRO DE 2010.

terça-feira, janeiro 05, 2010

Barganha


E lá se foi mais um ano, mais sonhos não realizados, por vezes nem sonhados.
Vou ao mercado.Há restos do Natal e do Ano Novo.
No olhar apagado, no andar cansado, um jeito tão desanimado!!!
E eu olho apagadamente, caminho cansadamente , desanimadamente estou.
Mas, irritada ,conscientemente frustrada dos anseios que penso, perdi, vejo no carrinho , na fila , na minha frente uma mulher e sua filha.
Uma menininha de sete, oito anos.As observo.São uma.São amorosamente uma da outra.E entao, uma tontura, um mal estar nas vísceras, um indescritível aperto no coração exausto de esperar.
Desaparece a monotonia explícita e aceita, revivo.
E peço ao tempo um instante só daqueles com minha menina.
Ofereço ao tempo um tempo de minha vida.
Suplico ao tempo surdo uma barganha.
Envergonhada,  sugiro medrosa , tímida e sabendo da inflexibilidade do tempo, minha vida por esse minuto.
Com ela, minha menina dos cachos dourados.
O tempo me devolve lembranças e impiedosamente, me vê chorar.

São Gabriel, 5 de janeiro de 2010.

) Engano da Bondade

O Engano da Bondade







Endureçamos a bondade, amigos. Ela também é bondosa, a cutilada que faz saltar a roedura e os bichos: também é bondosa a chama nas selvas incendiadas para que os arados bondosos fendam a terra.


Endureçamos a nossa bondade, amigos. Já não há pusilânime de olhos aguados e palavras brandas, já não há cretino de intenção subterrânea e gesto condescendente que não leve a bondade, por vós outorgada, como uma porta fechada a toda a penetração do nosso exame. Reparai que necessitamos que se chamem bons aos de coração recto, e aos não flexíveis e submissos.


Reparai que a palavra se vai tornando acolhedora das mais vis cumplicidades, e confessai que a bondade das vossas palavras foi sempre - ou quase sempre - mentirosa. Alguma vez temos de deixar de mentir, porque, no fim de contas, só de nós dependemos, e mortificamo-nos constantemente a sós com a nossa falsidade, vivendo assim encerrados em nós próprios entre as paredes da nossa estuta estupidez.


Os bons serão os que mais depressa se libertarem desta mentira pavorosa e souberem dizer a sua bondade endurecida contra todo aquele que a merecer. Bondade que se move, não com alguém, mas contra alguém. Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida.


E, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra.






Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer"