sábado, abril 29, 2006

Despedida


"Se tiver que ir, vai
O que fica para trás,
não sendo mentira
não racha
nem rompe,
não cai.

Ninguém tira
Já que vai
segue se depurando pelo trajeto,
para desembarcar passado a limpo,
sem máscara,
sem nada,
sem nenhum desafeto.

Quando chegar,
sobe ao ponto mais alto do lugar,
onde a encosta do mundo
faz a curva mais pendente

Onde
de onde eu estiver,quero enxergar
esse momento em que você vai constatar
que a vida vale grandiosamente a pena."
Flora Figueiredo

Sigo os passos de quem amo, sem siquer a pretensão da sombra.
Sigo com as pernas,os olhos,todo meu corpo vestido de alma
Para a grande festa (de vocês) , de triunfo, compreensão do que vale mesmo nessa vida. Grandiosamente.

Emergência


Emergência
Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas tem ritmo
-para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva uns afogados.
Mário Quintana


Nesse riso compartilhado, no abraço afetuoso, almas irmãs de tantas histórias parecidas, almas irmãs na vontade de querer-nos bem.
Amiga Cenira, minha homenagem.
Meu agradecimento.
" Quando posso conversar contigo, sentadas , sem horário, entre nós duas o mate repetido, sinto que o coração canta em meus lábios"Larralde

Brinde

" Uma vez que se ignora o que é que nos reserva
O dia de amanhã, busca ser feliz hoje.
Vai sentar-te ao luar e bebe.Pois talvez
Não vivas mais quando amanhã voltar a lua.
Omar Khayyam

No gesto, o brinde.No cálice o vinho.Nos olhos o sorriso, na boca a felicidade.
Amiga minha Cenira,brindamos a nossa amizade.
Mas de verdade "guerreiras mulheres" brindamos à nossa coragem.
De viver.
E muito amar.
Teu riso ecoa na sala, na cozinha, na varanda. Teu riso ecoa no meu coração, teu riso é ouro.Eu sou apenas coadjuvante de tua alegria.
Coadjuvante feliz.

sexta-feira, abril 28, 2006

Quintana para Caetano

Velha História
Era uma vez um homem que estava pescando, Caetano. Até que apanhou um peixinho! Mas o peixinho era tão pequenino e inocente, e tinha um azulado tão indescritível nas escamas, que o homem ficou com pena. E retirou cuidadosamente o anzol e pincelou com iodo a garganta do coitadinho. Depois guardou-o no bolso traseiro das calças, para que o animalzinho sarasse no quente. E desde então ficaram inseparáveis. Aonde o homem ia, o peixinho o acompanhava, a trote, que nem um cachorrinho. Pelas calçadas. Pelos elevadores. Pelos cafés. Como era tocante vê-los no "17"! - o homem, grave, de preto, com uma das mãos segurando a chícara
(*) de fumegante moca, com a outra lendo o jornal, com a outra fumando, com a outra cuidando do peixinho, enquanto este, silencioso e levemente melancólico, tomava lajanjada por um canudinho especial...Ora, um dia o homem e o peixinho passeavam à margem do rio onde o segundo dos dois fora pescado. E eis que os olhos do primeiro se encheram de lágrimas. e disse o homem ao peixinho:"Não, não me assiste o direito de te guardar comigo. Por que roubarte por mais tempo ao carinho do teu pai, da tua mãe, dos teus irmãozinhos, da tua tia solteira? Não, não e não! Volta para o seio da tua família. E viva eu cá na terra sempre triste!..."Dito isto, verteu copioso pranto e, desviando o rosto, atirou o peixinho n'água. E a água fez um redemoinho, que foi depois serenando, serenando... Até que o peixinho morreu afogado...

Soneto 30

" Soneto 30


Quando à corte silente do pensar
Eu convoco as lembranças do passado,
Suspiro pelo que ontem fui buscar,
Chorando o tempo já desperdiçado,
Afogo o olhar em lágrima ,tão rara,
Por amigos que a morte anoiteceu;
Pranteio dor que o amor já superara,
Lastimando o que aconteceu;
Posso então lastimar o erro esquecido,
E de tais penas recontar as sagas,
Chorando o já chorado e o já sofrido
Tornando a pagar contas já pagas,
Mas, amigo, se em ti penso um momento,
Vão-se as penas e acaba o sofrimento.

Shakespeare."

Amigos , que a morte anoiteceu.
Amigos , amanhecendo.
Amigos , comigo, entardecendo.
Obrigada.

Sina


"Vivo sou. Estou. Vivo e mortal.Cumpro minha sina. Que jeito? O que a vida me dá de gozo, sorvo; o que me cobra, purgo. Alegre, se possível, seja para dar claridade aos gozos; seja para diminuir o peso do infortúnio.
Não rogo pragas, não reclamo nem lamento.(mas lembro...) Só me exerço no que sou. Sinas cruzadas, digo eu,tantas são as vidas que vivo, imaginando e existindo, me achando e confundindo. Essas vidas minhas de fazer de conta, às vezes mais reais . sentidas e sofridas, do que esta que se diz minha vida verdadeira. Ela é o estuário em que desaguam alegrias e pesares, reais e imaginários de minhas vidas todas."
Darcy Ribeiro
Tu não perdes o que nunca foi teu.Nem sonhas o sonho alheio.
Tu ganhas , quando amas o inimaginável amor. Ganhas.
Antes que seja tarde
Enquanto a palavra arde
O peito queima
A dor consome
E a alegria ainda teima em dançar
Tango apaixonado.

Ah, antes que seja tarde,
Lembra do quanto te amo,
do quanto um dia
Pensastes que me amavas.
Antes que nessa vida seja tarde.
Porque é agora que quero dançar.
Agora tenho certeza.
Antes que seja tarde
Por ti.
Nise

sexta-feira, abril 21, 2006

Flôres Murchas


"Flôres Murchas

Pálidas crianças
Mal desabrochadas
Na manhã da vida!
Tristes asiladas
Que pendeis cansadas
Como flôres murchas!

Pálidas meninas
Sem amor de mãe,
Pálidas meninas
Uniformizadas,
quem vos arrancara
Dessas vestes tristes
Onde a caridade vos amortalhou!

Ai quem vos dissera,
Ai quem vos gritara:
- Anjos debandai!

Mas ninguém vos diz
Ninguém vos dá
mais que o olhar de pena
Quando desfilais,
Açucenas murchas
Procissão de sombras!

Ao cair da tarde
Vós me recordais
- Ó meninas tristes!-
Minhas esperanças!
Minhas esperanças
-meninas cansadas,
Pálidas crianças
A quem ninguém diz:
-Anjos, debandai! "


Manuel Bandeira.



Muitas vezes os anjos chamam.E, aos gritos.
A vontade de viver, esperança de mudanças é muito maior.
Gritai ó anjos, sacudi o corpo, rasgai as vestes, contai.
Que a poesia tarda a chegar, que a falta é permanente.
É preciso mais do que coragem para sobreviver.
É preciso "anjos". Ser os próprios.
Por isso mesmo..."Anjos , debandai!"
Nise


Cecília Meireles









"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." (Clarice Lispector)

sábado, abril 15, 2006

Mocinha...


Surprende-me teu convite.
Não por duvidar tua admiração ou amor por teu avô.
Surprende-me o reconhecimento.
A maturidade.
Menina tão amada minha.
Flora de muitas flôres.
Jardim de meu , muitos amores.
Espia por teus olhos, os olhos de meu pai.
Antes dos olhos de teu pai.
Uma corrente contra a " correnteza" por vezes feroz demais nas nossas vidas.
Te amo.
E por hoje basta, que meu coração não é assim tão jovem quanto eu.

sábado, abril 08, 2006

Um pássaro na mão...

" O que me preocupa não é o grito dos maus.
É o silêncio dos bons".
Martin Luther King

Treme o pássaro, firme a mão.Coração descompassado .Liberta-se o pássaro.
Vôa.
E a mão?
Recolhe-se ao braço inerte, sem vôo.
Porque o vôo maior é falar. Contar. Cantar.
Solidarizar.
Ser o outro.Sentir. Gostar.Viver. Amar.
Ah, não vale nada um pássaro na mão.
Milhares de vôos nos pássaros libertos, um coral ouvido se ousarmos cantar.

Nise Posted by Picasa