segunda-feira, dezembro 24, 2007

Socialismo


Poemeu de Natal


Reflorestamento


Millôr Fernandes



No Rio a gente sensata

Lutou por uma figueira

Mas não vi um democrata

Sair de sua banheira

Pra ver a causa mortal

Da árvore de Natal.

Dava bolas, não se lembram?

Dava velas multicores

Que iluminavam, na sala,

Uma breve noite sem dores.

Ainda existem, mas poucas;

Foram sendo destruídas

Pelo atrito entre as vidas

Foram sendo desprezadas

Pelas relações iradas.

E além disso, que má fé,

Eram banhadas apenas

Com lágrimas de jacaré.

Embora, entrando pelo tubo,

O povo, a todo momento,

Não lhe poupasse adubo;

Bosta de ressentimento.

Mas será que interessa

Em nome de uns inocentes

Crescer árvores inventadas

Pela imaginação das gentes

Sem utilidade prática

Frutificando presentes(Que brotavam das raízes)

Só pra pessoas felizes?

;Nunca vi martelo ou pua

Ou uma colher de pedreiro

Frutificar nessa árvore

Fosfatada com dinheiro.

Era uma coisa maldita

Pois a praga da aflição

Crescia mais do que ela

E sem darmos atenção

Foram-se acabando as mudas

Não houve renovação

E cercada de fome e medo

Morreu toda a plantação.

Pode ser, eu não sei não,

Pois há ainda outra versão;

Ante a violência urbana

A árvore ficou tristonha

E como não era humana

Morreu mesmo é de vergonha.

Contudo, sou da esperança,

Do "quem espera sempre alcança

"E por isso deixo aqui

Meu voto de confiança

O meu apelo final

À árvore de Natal

:Mais popular, mais comum,

Quero ver-te renascer

Para que, em oitenta e um,

Possam os pobres te comer.
Para todos meus amigos, em especial meu amor , que ainda acreditam num mundo mais justo.

Caninha


Mario Quintana

"Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.

Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha, nem desconfia que se acha conosco desde o início das eras.

Pensa que está somente afogando problemas dele, João Silva...

Ele está é bebendo a milenar inquietação do mundo!"
Ontem eu não via,ouvia, siquer percebia o outro na bebida entregue. Hoje, rondo cada lugar, cada cheiro, cada olhar embriagado que aprendi a reconhecer.
Aprendo tolerância ( a duras custas) , por vezes tenho até vontade de morrer, mas de verdade, queria aprender a beber, bebendo , me perder.
Nise

Quintana




Esperança



Mário Quintana





Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano



Vive uma louca chamada Esperança



E ela pensa que quando todas as sirenas



Todas as buzinas



Todos os reco-recos tocarem



Atira-se



E— ó delicioso vôo!



Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,



Outra vez criança...



E em torno dela indagará o povo:



— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?



E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)



Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:



— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

domingo, dezembro 23, 2007

Manuel bandeira






Canto de Natal

Manuel Bandeira

O nosso menino
Nasceu em Belém.
Nasceu tão-somente
Para querer bem.
Nasceu sobre as palhas
O nosso menino.
Mas a mãe sabia
Que ele era divino.
Vem para sofrer
A morte na cruz,
O nosso menino.
Seu nome é Jesus.
Por nós ele aceita
O humano destino:
Louvemos a glória
De Jesus menino.

Machado de Assis




Soneto de Natal

Machado de Assis

Um homem, — era aquela noite amiga,


Noite cristã, berço no Nazareno,


—Ao relembrar os dias de pequeno,


E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno


As sensações da sua idade antiga,


Naquela mesma velha noite amiga,


Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca


Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,


A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,


Só lhe saiu este pequeno verso:


"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

sábado, dezembro 15, 2007

Olhar


Eu olho
no olhar teu
Revivo inocência
Acalanto sonhos

Eu vejo
na direção de teus olhos

vou vovó
volto menina

deixa eu brincar contigo?
deixa ?
Posted by Picasa

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Desejo Natalino


Papai Noel faz de mim, um brinquedo de Natal
Papai Noel faz por mim, um presente de Natal
Papai Noel me entrega
Para o desejo permanente
Brinquedo pra todo e sempre
Muito mais que um Natal
Boneca, bruxa,
Trapo, porcelana.
Mas para sempre
Muito amor, nenhum mal.
Nise
São Gabriel,14 de dezembro de 2007.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Ponte


Frágil ponte:
arco-íris, teia
de aranha, gaze
de água, espuma,
nuvem, luar.
Quase nada:
quase
a morte.
Por ela passeia
passeia,
sem esperança nenhuma ,
meu desejo de te amar.
Céu que miro?
- Alta neblina.
longo horizonte,
- mas só de mar.
E esta ponte
que se arqueia
como um suspiro,
-tênue renda cristalina-
será possível que transporte
a algum lugar?
Por ela passeia,
passeia
meu desejo de te amar.
Em franjas de areia,
chegada do fundo
lânguido do mundo,
às vezes , uma sereia
vem cantar.
E em seu canto te nomeia.
Por isso, a ponte se alteia,
e para longe se lança,
nessa frágil teia,
-invisível , fina
renda cristalina
que a morte balança,
torna a balançar...
(Por ela passeia meu desejo de te amar.)
Cecília Meireles

quinta-feira, novembro 15, 2007

Como ser triste?


...se teu riso é canção?
tuas mãos,
carinho.
tua boca,
beijos.
teus olhos
ternura.
teus cabelos
carícia macia
perfumada.
teus braços,
abraços.
Como ser triste?
...se és meu
legado.
Atestado de que tudo,
tudo mesmo valeu a pena.
Como ser triste?
quando a canção de teu riso
menino amado
desperta o sonho mais bonito
e vou me vendo eternizada em ti
e nos que por ti virão
rindo estrelas,
cavalgando nuvens
pisando com orgulho
o chão de meu Rio Grande.
Como ser triste?
Se já fui flor
tive frutos
fruto de fruto meu
tão lindo, lindo ...
Como lamentar,
se posso cantar contigo?
Redescobrir a vida
Me encontrar na morte.


Nise
São Gabriel,15 de novembro de 2007.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Cegueira




Nó cego no meu destino


Cegueira da alma minha


Coração acorrentado na escuridão






Desato os nós


mesmo que cegos


Milagre faz minha alma ver


As correntes se rompem em luz






Vou sofrer?


Muito!!!




mas há tanta esquina encantada


(ah meu Quintana)


tantos lugares onde não fui


tantos olhares que não cruzei




Até parece que a dor se alimenta de mim


hoje vou me alimentar da dor,
e com certeza, redescobrir o amor.
Nise
São Gabriel, 14 de novembro de 2007

segunda-feira, novembro 12, 2007

Exausto

Adélia Prado
Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.Posted by Picasa

Amanhecimento


Amanhecimento
Elisa Lucinda
De tanta noite que dormi contigo
no sono acordado dos amores
de tudo que desembocamos em amanhecimento
a aurora acabou por virar processo.
Mesmo agora
quando nossos poentes se acumulam
quando nossos destinos se torturam
no acaso ocaso das escolhas
as ternas folhas roçam
a dura parede.
nossa sede se esconde
atrás do tronco da árvore
e geme muda de modo a
só nós ouvirmos.
Vai assim seguindo o desfile das tentativas de nãos
o pio de todas as asneiras
todas as besteiras se acumulam em vão ao pé da montanha
para um dia partirem em revoada.
Ainda que nos anoiteça
tem manhã nessa invernada
Violões, canções, invenções de alvorada...







Posted by Picasa

Lilás

Lilás é uma cor
de flor
é cor da alma,
acalma
lilás cor de paz
guarda meu amor
jardim
alma infinda
lutando guerras derrotadas
anunciadas
na cor lilás.
Nise Posted by Picasa
Preciso comer bolo, chocolate, doces, muitos doces sem remorso algum. Preciso adoçar minha boca, antes que fique azeda a vida, fel meu amor mel.
NisePosted by Picasa

terça-feira, novembro 06, 2007

Sabedoria precoce.



"...eu preciso do meu pai e da minha mãe."

Vindo das termas de Gravatal, num desabafo amoroso demais, grande demais para seus 4 aninhos.

Coração de gigante , meu Caetano.

Vovó Nise

quarta-feira, outubro 31, 2007

Nunca mais


Pensei que o tempo era meu
Eu, brinquedo do tempo.
Menino levado erguendo pipas
Pipas, os sonhos meus.
Pensei que a vida era minha
Eu, brinquedo da vida
Menina levada brincando tres marias
Tres marias não alcançam o céu, vida minha.
Pensei que a ternura era minha
Eu, brinquedo da ilusão
Mocinho levado brincando de estilingue
Acertou ternura,
Quase morri.
Pensei que a verdade conhecia
Mocinha brincando de roda
Largou verdade no vento
Voltou empoeirada,
Irreconhecível,
Quase me perdi.
Pensei conhecer modéstia.
Sepultou-me a soberba.
Pensei que o amor podia
ser parceiro meu.
Homens e mulheres cruelmente brincaram
bola de gude
meu coração.
Pensei que podia contar
perdi a conta e os cantares
Hoje quem resta sou eu
pedindo nunca mais.
Nise
São Gabriel, 31 de outubro de 2007.

sábado, outubro 27, 2007

Para envejecer juntos


Para envejecer juntos
(Félix Grande*)

Para envejecer juntos nos cogemos las manos,
yo miro tu sonrisa, tú miras mi tristeza;
irán saliendo arrugas en mi alma y tu cabeza
y canas sobre nuestros espíritus humanos;

idéntica vigilia caerá en nuestras historias:
ver al tiempo ir cerrando una a una las ventanas,
me sonreirás lo mismo que todas las mañanas
y será como un ramo de flores mortuorias;

tú eres ese recuerdo que he de tener un día,
yo soy esa nostalgia que poblará tu frente
cuando ya sea un anciano, amada, anciana mía;

pienso en ese futuro tranquilo y arrugado
como en dos viejos libros qua ya no lee la gente,
con tanto como habrán, en silencio, aguardado.

Sonhos


Há sonhos individuais e coletivos. Sonhos irresponsáveis e delirantes, mas também sonhos previsíveis e tediosos. Há até os sonhos que nem são nossos, mas assumimos como tal, certos de que estamos fazendo o correto.
Dos sonhos irresponsáveis e delirantes, podemos destacar os dos jovens: dirigir o carro do pai; sem carteira, ter um caso com aquele amigo casado e mais velho, fumar maconha pela primeira vez, transar sem camisinha, beber até cair.
Sonhos delirantes tem-se em qualquer idade: conhecer os Stones, acertar na loteria, voltar no tempo; só pra dizer aquilo que ficou entalado na garganta, encontrar um poço de petróleo ou uma mina de ouro.
Uma raça em extinção de sonhos são os implantados ou transferidos: mamãe quer que eu seja médica, meu namorado adora me ver naqueles “tutus” de balé, e meu pai adoraria ter uma dúzia de netos. Cruzes!
Os sonhos previsíveis começam a aparecer quando a pessoa está alcançando a maturidade: passar no vestibular, conseguir um bom emprego e uma boa remuneração, fazer um curso no exterior e, talvez, mais tarde, constituir uma família.
Já os sonhos tediosos são aqueles praticamente impossíveis: o pobrezinho sonha desde criança em ter um “Ferrari” mas, infelizmente, é pedreiro. Apenas ilusão. Tenha dó!
Os sonhos são, resumidamente, um retrato das necessidades do nosso ser. Quem não sonha não vive.
O que sustenta viva uma pessoa doente, em estado terminal? Uma esperança, um sonho de, um dia, voltar a caminhar ao sol. O que mata o jovem são e lúcido? A falta de sonhos, perspectivas, caminhos a trilhar.
Que não deixemos nunca de sonhar e que, com o tempo, aprendamos a sonhar os sonhos certos.
Flora Valls Machado
Um sonho, minha menina Flora.
Tia Nise

Não ser Poeta


Não ser poeta
Não ser poeta, mas sentir

Sem escrever a poesia

deixar que em ti ,ela viva.

Não ser poeta, e inexorávelmente ,

implacavelmente, querer.

Poesia.

Não sou poeta.

Nunca serei.

Mantenho no entanto, como lua,

o brilho de teu Sol, Poesia.


E, ah...e pode até ser que um dia ,

num instante qualquer,

mais do que visitas

Deixe-me um mimo de um verso sem igual

Que me faça pensar

Poeta.

Enquanto isso,

desculpa por toda pretensão que tive e tenho

Por tanto amor jogado fora

Língua de cão rima com que?

Para que não seja pobre demais a rima, rimo não!



Nise

São Gabriel, 27 de outubro de 2007.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Laura e Pedro


Chegaram trazendo alegria
Matando saudade
Revivendo amor
Partiram
e escuto música
no coração.
Tia Nise
São Gabriel, 25 de outubro de 2007

segunda-feira, outubro 22, 2007

Ceias


preparo ceias

cheias de veneno e púrpura

elevo meus dias

ao preço da solidão descarnada

desencarno

e pássaro ao outro lado
® Rubens da Cunha
Outro passeio, outro encontro.Confirmada verdade que basta realmente olhar.
Blog do Sr Rubens da Cunha: Casa de Paragens
Nise

sábado, outubro 13, 2007


O grande problema das borboletas,


é que muitas continuam com alma de lagarta,


e lagarteando em forma de borboleta,


voam, rastejando por entre espinhos


quando deveriam pousar sobre rosas."



Cristiano Nagel

Varal


No Varal de roupas

da minha Vida,

estendem-se camisas mal-lavadas,

amassadas,ultrapassadas.

Calças

Solitárias

esburacadas,customizadas com trapos de corações.

Sozinha, uma gravata enforca-se com seu próprio nó.

Um vestido sorri diante de pouca desgraça.


Cristiano Nagel


Em meu passeio virtual, gratifica-me encontrar tanta gente, GENTE.

Do blog , Pensamento Estranho, maravilha-me o poeta.

Nise

O vestido


O vestido
(
Adélia Prado )
No armário do meu quarto
escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia
desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada: eu estou no cinema
E deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.

domingo, outubro 07, 2007

Meu pequeno Príncipe


Andando, o principezinho encontrou um jardim cheio de rosas. Contemplou-as… Eram todas iguais à sua flor.
E deitado na relva, ele chorou……
E foi então que apareceu a raposa:- Bom dia, disse a raposa.- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira…
- Quem és tu? Perguntou o principezinho. Tu és bem bonita…- Sou uma raposa, disse a raposa.- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste…
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
- Que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa "criar laços…"
- Criar laços?-
Exactamente, disse a raposa.
Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens também necessidade de mim.
Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo… Se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor… Cativa-me! Disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
- Que é preciso fazer? Perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto…
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito… São precisos rituais.
- Que é um ritual? Perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas.
(…)Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ai! – Exclamou a raposa – Ai que me vou pôr a chorar…
- A culpa é tua, disse o principezinho. Eu não te queria fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
- Pois quis.
- Mas agora vais-te pôr a chorar!-
Pois vou- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! Disse a raposa. Por causa da cor do trigo… Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.
(…)- Adeus…- Adeus, disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos…
O essencial é invisível para os olhos – repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… Repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade, disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa…

Excerto de "O Principezinho", de Antoine de Saint-Exupéry
Meu menino Caetano, irremediávelmente cativada, perdida de amor por ti, desejo sempre que , menino lindo, homem bonito, sigas cativando , cultivando, percebendo , em cada lembrança que vovó Nise puder semear, um pouco de meu amor, pois sei que vais amar muito, muito mais. E humanamente bom, muito amado, respeitado.Mais que rosa, um mundo inteiro para exerceres o dom supremo de amar.
Tu tens raízes. Profundas. Firmes.
Dá o melhor fruto, sê a maior sombra.
Menino amado meu ,menino amado da mamãe Ivana, menino Caetano marca uma hora para me encontrar.
Vovó Nise
São Gabriel, 7 de outubro de 2007.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Tempo


Aí que o tempo está curto demais...aí que perdi demais o tempo e no tempo me perdi.

Ah, tempo que não volta, memória que permanece , exigente do eu antigo.

Resiste coração porque quando sepultado o sonho, aí sim, não terás mais nada.

Nem serás.

Lamparina acesa, persigo o tempo, e na escuridão ele há muito nem sequer precisa caminhar.

Nise

São Gabriel, 5 de outubro de 2005.

terça-feira, outubro 02, 2007



ASAS DE TERNURA
©Jade Dantas

Memória de olhos,
boca, mãos,
a deslizar na pele

e entre a ausência tua
e a minha ardência,
a doçura das lembranças.

Intermitente, transbordam
sem permitir que se interrompam
palavras de poesia.
Parte dessa paisagem,
sou pássaro noturno
voando em asas de ternura


Imensamente feliz, posso postar aqui em "Vivendo com Neruda" esse poema de minha amiga Jade.
Caminhos diversos tem a vida, diversos os amigos, inesquecíveis os que vêm com poesia.

São Gabriel, 2 de outubro de 2007.

Mario Pirata



nas retinas das meninas

crescem calêndulas

caleidoscópios cristalinos

nos traços retorcidos

nos dedos de Miróe

quando o amor levantar vôo

meu coração vira aeroporto


nas pupilas das mulheres

escorrem chumaços

de fios amarelados

pelas pétalas dos girassóis de Van Goghe

quando o amor levantar vôo

meu coração vira aeroporto



nas pálpebras das anciãs

surgem punhados

de serpentes escancaradas

como as mãos ressecadas de Gauguine

quando o amor levantar vôo

meu coração vira aeroporto.



Mario Pirata

sexta-feira, setembro 28, 2007

Movediço


Sou antigo e
movediço
como o mangue.
Não sei
como não enlouqueci aos 16.
Ainda tenho formas
para destruir este quarto
este corpo os postes
da rua-
Mas não posso
morrer não posso
NÃO ASSIM
MARAVILHADO.
Fabrício Corsaletti

Estações


Um dia alguém vai ouvir
Esta brisa que ouço agora:
Verga os galhos do plátano
Lava das mãos esta folha.
Rodrigo Petrônio
E sinto e pressinto que o tempo é exíguo para todos os sonhos.
Apresso o passo, estico os os braços, alongo o olhar.
Sossego o coração que inquieto me pressiona na angústia necessidade de saber onde finalmente lhe darei repouso no mais prometido e belo anseio.
Nise
São Gabriel, 28 de setembro de 2007.

terça-feira, setembro 25, 2007


NO HOSPITAL



Morrer é como esquecer

o horário de verão à mesa.

Perder os sentidos

enquanto lá fora

há um rosto de criança

exposto ao sol.

Um suicida pondo vírgulas no bilhete.



Dailor Varela

segunda-feira, setembro 24, 2007

Propósito


Viver pouco mas
viver muito
Ser todo o pensamento
Toda a esperança
Toda a angústia- mas ser
Nunca morrer
enquanto viver.
Eunice Arruda

sábado, setembro 15, 2007

Noite

E eu,

que amava a noite

que vivia à noite

que por ela ansiava

namorada e enamorada

esperava.


E eu,
que na noite
te encontrava,
encontro o desencontro


Que na noite amava
conheço o desamor
mil vezes classificada
em forma de dor.


E eu,
que a noite amava
apesar de
e porque
ainda espero a noite.




Nise
São Gabriel, 15 de setembro de 2007.


segunda-feira, setembro 10, 2007

Marcha Soldado...


Marcha soldado,
cabeça de papel...
Bambalalão...
senhor capitão...
E , te ver assim tão lindo, os cachos castanhos, moldura de teu rosto perfeito e mimoso, faz meu coração bater mais alto do que o "bumbo" da banda, meus olhos brilharem mais do que os fogos, minha vida valer muito mais por ti, meu menino amado Caetano.
Vovó Nise
São Gabriel, 10 de setembro de 2007.

terça-feira, setembro 04, 2007

Motivo da Rosa


5. Motivo da Rosa
Antes de teu olhar, não era
nem será depois, - primavera.
Pois vivemos do que perdura,
não do que fomos. Desse acaso
do que foi visto e amado:- o prazo
do Criador na criatura...
Não sou eu, mas sim o perfume
que em ti me conserva, e resume
o resto, que as horas consomem.
Mas não chores, que no meu dia,
há mais sonho e sabedoria
que nos vagos séculos do homem.
Cecília Meireles