Poemeu de Natal
Reflorestamento
Millôr Fernandes
No Rio a gente sensata
Lutou por uma figueira
Mas não vi um democrata
Sair de sua banheira
Pra ver a causa mortal
Da árvore de Natal.
Dava bolas, não se lembram?
Dava velas multicores
Que iluminavam, na sala,
Uma breve noite sem dores.
Ainda existem, mas poucas;
Foram sendo destruídas
Pelo atrito entre as vidas
Foram sendo desprezadas
Pelas relações iradas.
E além disso, que má fé,
Eram banhadas apenas
Com lágrimas de jacaré.
Embora, entrando pelo tubo,
O povo, a todo momento,
Não lhe poupasse adubo;
Bosta de ressentimento.
Mas será que interessa
Em nome de uns inocentes
Crescer árvores inventadas
Pela imaginação das gentes
Sem utilidade prática
Frutificando presentes(Que brotavam das raízes)
Só pra pessoas felizes?
;Nunca vi martelo ou pua
Ou uma colher de pedreiro
Frutificar nessa árvore
Fosfatada com dinheiro.
Era uma coisa maldita
Pois a praga da aflição
Crescia mais do que ela
E sem darmos atenção
Foram-se acabando as mudas
Não houve renovação
E cercada de fome e medo
Morreu toda a plantação.
Pode ser, eu não sei não,
Pois há ainda outra versão;
Ante a violência urbana
A árvore ficou tristonha
E como não era humana
Morreu mesmo é de vergonha.
Contudo, sou da esperança,
Do "quem espera sempre alcança
"E por isso deixo aqui
Meu voto de confiança
O meu apelo final
À árvore de Natal
:Mais popular, mais comum,
Quero ver-te renascer
Para que, em oitenta e um,
Possam os pobres te comer.
Para todos meus amigos, em especial meu amor , que ainda acreditam num mundo mais justo.
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