segunda-feira, junho 30, 2008

Amanhecimento


Amanhecimento


De tanta noite que dormi contigo


no sono acordado dos amores


de tudo que desembocamos em amanhecimento


a aurora acabou por virar processo.


Mesmo agora


quando nossos poentes se acumulam


quando nossos destinos se torturam


no acaso ocaso das escolhas


as ternas folhas roçam


a dura parede.


nossa sede se esconde


atrás do tronco da árvore


e geme muda de modo a


só nós ouvirmos.


Vai assim seguindo o desfile das tentativas de não


so pio de todas as asneiras


todas as besteiras se acumulam em vão ao pé da montanha


para um dia partirem em revoada.


Ainda que nos anoiteça


tem manhã nessa invernada


Violões, canções, invenções de alvorada...


Ninguém repara,nossa noite está acostumada.
Preciso lembrar o autor.
Nise
São Gabriel, 12 de julho de 2008.

Cumpleaños


Cumpleaños


(Ángel González)

Yo lo noto:

cómo me voy volviendo

menos cierto, confuso,

disolviéndome en el air

e

cotidiano, burdojirón de mí, deshilachadoy roto por los puños

Yo comprendo:

he vividoun año más, y eso es muy duro.

¡Mover el corazón todos los días

casi cien veces por minuto!

Para vivir un año es necesario

morirse muchas veces mucho.

sábado, junho 28, 2008

Flora Valls



POEMETO


Nunca alguém foi tão meu.

Quisera eu assim ser um dia:

Tão somente tua; eu.
autora:Poeta Flora Valls
Se antes da maturidade, consegues expressar-te assim, serei pequena demais, no mais adiante para falar de ti menina Flora amada.
Nise
São Gabriel,28 de junho de 2008.

Darcy Ribeiro


"Só há duas opções nessa vida:
se resignar ou se indignar.
Eu não vou me resignar nunca."
Darcy Ribeiro
.
Encontro-te Darcy em cada gesto solidário, em cada pensamento bom, humano, inteligente.
Encontro-te na genialidade, na corrente que atravessa correntezas do furor capitalista.
Encontro-te nas páginas de minha amiga socialista Regina.
Encontro-te tanto, marco encontros com " Migo", e até concluo que provávelmente eternidade seja isso: Marcar com atos, palavras, ideais, jeito de ser e pensar o tempo dos que estiveram, estão e estarão de alguma forma contigo no legado que deixastes, no exemplo que marcastes de tanta coragem e convicção de um mundo mais justo.
Te amo Darcy.
Agora.
Nise
São Gabriel, 28 de junho de 2008

segunda-feira, junho 16, 2008


Receita de amor


Receita para paixão virar amor?

não sei

Conheço a receita de pão:

água, farinha, sal e fermento:

junta, mexe, descansa

põe na formadeixa crescer.

Cozinha-se ao calor do forno


Na primeira vez que veio,

ela disse:

só tem pão

ele não se importou,
se fartou


Depois de casados
ele elogiava

o cheiro de pão que vinha do fogão

e a puxava pela mão...

Em seguida, famintos

tomavam café com pão

Vai ver, a receita de pão

era de amor


In: Município dia-a-dia, Caderno Mais: Amor, 09/06/2008


Do blog:Borboletras no quintal

domingo, junho 15, 2008

ANIVERSÁRIO DE ERNESTO CHE GUEVARA


"Al Che Guevara.
No sé donde está Ud.
Creo que está Ud. en el cielo.
Allí le va, ya le encontrarán.
Yo e envío un abrazo tan cordial y con alas que sepan hallarle a Ud.
Un abrazo muy cordial de un viejo amigo.
León Felipe Mex. Enero 1966"

Léon Felipe



" ... Para el Che Guevara


Palomas


Las palomas de la plaza de San Marcos
que el municipio de Venecia cebaba para los turistas,
se han muerto todas de repente.
La paloma de Picasso que yo guardaba como una reliquia en un viejo cartapa- cio,
ha desaparecido.
En el Concilio Ecuménico nadie sabe por donde anda la paloma de la anunciación.
Y el Vaticano está consternado por que se halla enferma,
la poloma del Espíritu Santo.
Se dice que en el mundo hay ahora una mortífera epidemia de palomas.
Y el Consejo de la Paz.
no encuentra por ninguna parte una paloma
León Felipe



Carta y poema enviados por el poeta español León Felipe al Che. "Mi querido amigo che Guevara Le escribo a Ud. Ya muy viejo y muy torpón pero le debo a Ud. un abrazo que no quiero irme sin dárselo. Ahí se lo lleva a Ud. una amiga mía Berta esposa de un viejo amigo que le quiere a Ud. mucho. Le envío como recuerdo el autógrafo del último poema que escribí hace unos días. Salud y alegría. Le quiere un viejo amigo León Felipe. "

segunda-feira, junho 09, 2008

Aldeia


Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo…


Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,


Porque eu sou do tamanho do que vejo


E não do tamanho da minha altura…


Fernando Pessoa

Emily Dickson









A palavra morre





Quando é dita,





Alguém diz.





Eu digo que ela começa





A viver





Naquele dia.

quinta-feira, junho 05, 2008

Beleza









Beleza e Verdade




Tradução de Manuel Bandeira





Morri pela beleza,




mas apenas estava




Acomodada em meu túmulo,




Alguém que morrera pela verdade,




Era depositado no carneiro próximo.




Perguntou-me baixinho o que me matara.




– A beleza, respondi.




– A mim, a verdade,




– é a mesma coisa,




Somos irmãos.




E assim, como parentes que uma noite se encontram,




Conversamos de jazigo a jazigo




Até que o musgo alcançou os nossos lábios




E cobriu os nossos nomes.






Emily Dickson









.

terça-feira, junho 03, 2008

Hilda Hilst




Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
"Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas".
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.

Hilda Hilst

Felizes!




Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,


que solidão errante até tua companhia!


Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.

Em tal tal


não amanhece ainda a primavera.


Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,

juntos desde a roupa às raízes,


juntos de outono, de água, de quadris,

até ser só tu, só eu juntos.


Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,

a desembocadura da água de Boroa,


pensar que separados por trens e nações


tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos

com todos confundidos, com homens e mulheres,


com a terra que implanta e educa cravos.


Pablo Neruda

Macieira


Frutos e flores


Marina Colasanti

Meu amado me diz

que sou como maçã

cortada ao meio.

As sementes eu tenho

é bem verdade.

E a simetria das curvas

Tive um certo rubor

na pele lisa

que não sei

se ainda tenho.

Mas se em abril floresce

a macieira

eu maçã feita

e pra lá de madura

ainda me desdobro

em brancas flores

cada vez que sua faca

me traspassa.